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    A (RE)CONSTRUÇÃO DO "PRIMEIRO" CARRO A RODAR NO BRASIL

    Santos Dumont não é o inventor do automóvel. Mas foi ele quem o apresentou aos brasileiros. 

    O ano era 1891 e o jovem Alberto retornava de uma suas viagens à Europa. Foi no Porto de Santos que desembarcou um modelo de uma conhecida marca até os dias atuais. O veículo era movido à gasolina, tinha dois cilindros em “V” e 3,5 cavalos de potência máxima. Imagine a relevância de mais essa iniciativa do nosso heroi.

    Obviamente o espectador de nosso espetáculo viverá a experiência de “embarcar na história” e sentir-se fazendo parte dela.

    O NOSSO CARRO

    Materializar ideias quando se trata de uma produção teatral, é um ato de bravura. Dificilmente se tem patrocínio e muitas propostas cênicas acabam chegando ao palco em forma de mímica por falta do objeto concreto. Com o ‘nosso carro’ não foi diferente. Estreamos o espetáculo em abril de 2007 e foi somente no mesmo mês do ano 2016 que realizamos esse sonho. Até então, a cena era apresentada com o uso de gestos que simulavam estarmos guiando um automóvel. Logo depois, em um brechó beneficiente, ganhamos um volante de um velho vídeo game – não mais apropriado a seu uso inicial. Graças a um grupo de amigos, advindo da itinerância da peça, conseguimos efetivar a presença cênica do “primeiro a rodar no Brasil”.

    Em 2015, nosso espetáculo foi presente supresa no primeiro dia de aula do ano letivo na tradicional Escola Estadual Alexandrino de Alencar, no município de Passo do Sobrado – RS, dirigida na época pelo prof. Malon Weber. Já na chegada, enquanto descarregava o material cênico, notei na área de descarte uma “carcaça” de bicicleta cercada em solda por uma estrutura metálica já com alguns focos de desgaste e corrosão em virtude de ficar ao relento. Perguntei ao solícito diretor da Escola se o objeto ainda seria útil e expliquei o motivo para um possível novo uso. Ele pediu um tempo para conversar com a professora de ciências – responsável pelo uso anterior da bicicleta num evento interno. A boa notícia não tardou a chegar. Tínhamos aquilo que viria a ser – possível e dificilmente, a realização de um sonho.

    Nos intervalos das apresentações nas cidades da Região, o material cênico ficava depositado em Rio Pardo na garagem do escritório do prof. Telmo Berger – que passei a denominar desde então ‘padrinho do espetáculo’ por muito trabalhar de forma voluntária para o sucesso de “Santos Dumont” em sua Cidade e nas demais do entorno. Ele estava presente quando chegamos para guardar o material. De cara, ele viu o “objeto” e disparou: “Arrumastes mais uma tralha para carregar?” – em tom de brincadeira, porém sua expressão dizia o contrário. Expliquei o possível uso. Logo em seguida parti para a ação. Procurei um conhecido casal de empreendedores criativos na Cidade. A Cláudia e o Luiz Carlos prontamente acolheram a “tralha” em sua casa, fizeram uma ligação e ali começava a transformação. Foi o Luiz quem me apresentou à família Heredia, conhecida como dona da melhor oficina de bicicletas da Cidade. Adriano e Douglas – pai e filho, abraçaram o projeto no ato, sem nada exigir. Se comprometeram a estudar possibilidades de realizar meu pedido e trabalhar no projeto quando possível. Meses se passaram até o dia em que chega a tão aguardada notícia.

    Foto para botão O PRIMEIRO CARRO

    Com o carro pronto, o prof. Telmo Berger entra em contato comigo perguntando se eu gostaria que ele mandasse estofar o banco do novo autómovel. Imagine a minha faceirice… E foi ele que conseguiu encaixar a vinda do meu ‘presente’ num caminhão de mudanças que traria de Rio Pardo à Porto Alegre o meu sonho materializado.

    Ao desembacar “o primeiro a rodar no Brasil” em frente à minha casa, a emoção foi tanta que não me contive. O motorista que o trouxe, extremamente gentil, deve ter pensado naquela hora: “Será que ele está chorando de tristeza ou felicidade…” – risos.

    Santos Dumont nos ensina que o que está bom sempre pode chegar a excelente. O carro, estacionado no corredor interno do meu prédio, com a “bênção” da síndica, não ficou lá por muito tempo. Entra em cena a família Demari, novamente pai e filho – Jair e Jailson, de Alvorada, cidade da Região Metropolitana da Capital.

    Conheci o Jailson em sua Escola durante os preparativos para a apresentação do espetáculo. Ele se mostrou muito solícito em auxiliar, assim como seus colegas. Logo ficamos amigos, ele conseguiu dar vida a robô que adquiri num brechó. Este guri tem talento, pensei. Conversa vai, conversa vem… Eis que comentei que gostaria de aprimorar o “carro” e mostrei a foto de um modelo mais sofisticado dos que o “Petit Santôs” teria adquido. Quem conhece o Jailson sabe, o guri é ‘muito econômico’ em expressar o que pensa. Mandei a foto foto do modelo desejado e “como quem não quer nada”, lasquei: “E aí, tu achas que consegues me dar uma mão…” Resposta curta e objetiva: “Sim.” Confesso que não levei muito a sério, mas não custava acreditar. Seu pai Jair tem uma oficina nos fundos de casa e o guri ‘coloca som em carros’. Hoje em dia é um respeitado empresário. Em apenas dois sábados a obra foi finalizada. Buscando adequar o “carro” à necessidade de interação com a plateia, substituimos a alavanca de direção ao veículo por um volante. Difícil para a gurizada entrar na “caranga” e não encontrar a ‘direção’. Ainda tem farois que acendem e até uma buzina retrô – uma alegria para a gurizada.

    Fui carinhosamente acolhido pela família que me recebeu com muita atenção e cortesia, me convidou para almoçar, e até aquela sesta eu conseguia tirar após as refeições. Me senti em casa.

    Meu trabalho agrega pessoas, gera convívio em lugares e culturas diferentes, é feito para tocar o coração de comunidades e por elas sou acolhido. Minha gratidão é imensa!

    Neste episódio você vai saber porquê a RADIONAL apoia o Mancuzo. Vai ver também em ação parceiros que mantém a qualidade visual do espetáculo – cenário e figurinos. Um apoio fundamental para mantermos “tudo funcionando” e encantando nossas plateias. E a grande estrela da comemoração dos 10 anos da peça, o carro de Santos Dumont; sua minuciosa construção realizada por jovens criativos e empreendedores que aceitaram o desafio e deram um show de competência e generosidade. Vai, clica, assiste, curte e compartilha! São apenas “OS PRIMEIROS 10 ANOS”…